1 00:00:00,000 --> 00:00:13,000 [Música] 2 00:00:13,000 --> 00:00:16,300 Bom dia, boa tarde, boa noite pra quem tá escutando o podcast. 3 00:00:16,300 --> 00:00:20,000 Eu sou Eduardo Souza, do IFPE, falo aqui de Recife. 4 00:00:20,000 --> 00:00:24,600 Você não está ouvindo nosso host habitual, Fred, 5 00:00:24,600 --> 00:00:28,800 porque ele tá lá no DRS, né, em Boston, Congresso Chic, 6 00:00:28,800 --> 00:00:32,000 lutando contra a opressão em outras frentes, né, na frente acadêmica, 7 00:00:32,000 --> 00:00:36,000 e levando nosso projeto pra outros lugares. 8 00:00:36,000 --> 00:00:41,400 Hoje a gente tá na última semana de discussão do livro 9 00:00:41,400 --> 00:00:43,400 "A Questão Universitária", de Álvaro Vira Pinto, 10 00:00:43,400 --> 00:00:49,800 e coincidentemente, tudo indica que vai acontecer ao mesmo tempo, 11 00:00:49,800 --> 00:00:51,600 simultaneamente, que o fim da greve, também, 12 00:00:51,600 --> 00:00:54,200 nas instituições de ensino federal. 13 00:00:54,200 --> 00:00:57,300 Só dando um breve panorama na conjuntura, né, 14 00:00:57,300 --> 00:00:59,300 a gente tá gravando aqui no dia 25 de junho, 15 00:00:59,300 --> 00:01:02,000 um dia depois de São João, e aí por isso que a gente começou aí 16 00:01:02,000 --> 00:01:04,000 com esse shot universitário de Santana, 17 00:01:04,000 --> 00:01:10,400 que é muito vieiriano, né, a crítica que ele faz à universidade, 18 00:01:10,400 --> 00:01:16,000 sua função cartorial, essa função meramente aparente 19 00:01:16,000 --> 00:01:19,000 de ter um anel no dedo, né, e ser chamado de doutor. 20 00:01:19,000 --> 00:01:22,400 Tudo indica, né, no último final de semana, 21 00:01:22,400 --> 00:01:26,800 as principais organizações sindicais indicaram o fim da greve, né, 22 00:01:26,800 --> 00:01:30,300 que as bases fizessem as assembleias e o fim da greve, 23 00:01:30,300 --> 00:01:35,300 aceitando a proposta feita pelo governo dia 14 de junho. 24 00:01:35,300 --> 00:01:38,600 A greve, né, como eu tinha dito e a gente mencionou, assim, 25 00:01:38,600 --> 00:01:40,600 sempre é uma vitória porque sempre é uma oportunidade 26 00:01:40,600 --> 00:01:42,800 de que a classe trabalhadora se reconheça, né, 27 00:01:42,800 --> 00:01:47,300 crie laços, crie solidariedade, crie consciência crítica, 28 00:01:47,300 --> 00:01:51,300 e afie, né, seus modos de lutar. 29 00:01:51,300 --> 00:01:56,300 Ainda assim, né, ainda que ela não realize suas demandas imediatas, 30 00:01:56,300 --> 00:01:57,800 que foi o nosso caso. 31 00:01:57,800 --> 00:02:01,800 Então não se trata exatamente de pensar se a greve foi uma vitória ou não, 32 00:02:01,800 --> 00:02:05,800 a greve sempre é uma vitória, na medida em que a gente aprende nela, né. 33 00:02:05,800 --> 00:02:09,800 No entanto, a gente não conseguiu arrancar nossas propostas iniciais do governo, né, 34 00:02:09,800 --> 00:02:12,800 a gente arrancou bastante coisa, a gente comentou aqui também 35 00:02:12,800 --> 00:02:15,300 os professores dos institutos federais, sobretudo, 36 00:02:15,300 --> 00:02:17,300 a gente conseguiu reduzir nosso cargo horário, 37 00:02:17,300 --> 00:02:19,800 e alguns outros benefícios para os técnicos, 38 00:02:19,800 --> 00:02:25,800 mas o governo ainda estava muito indisposto a negociar conosco, né. 39 00:02:25,800 --> 00:02:30,800 E aí, pensando nisso, né, já vindo para o texto de Álvaro Vera Pinto nesse contexto, 40 00:02:30,800 --> 00:02:34,300 uma coisa que me chamou a atenção, e eu apontei no começo da discussão, 41 00:02:34,300 --> 00:02:39,300 foi justamente a condição que a universidade dependente, 42 00:02:39,300 --> 00:02:41,800 essa universidade que não é uma universidade do povo, 43 00:02:41,800 --> 00:02:44,300 como Álvaro Vera Pinto defende, 44 00:02:44,300 --> 00:02:50,300 ela está sempre sendo levada ao sabor dos ventos da classe dominante. 45 00:02:50,300 --> 00:02:55,800 Para onde a classe dominante ela aponta, e sopra, né, a universidade vai. 46 00:02:55,800 --> 00:02:58,800 E aí não é diferente, né, só que é engraçado porque, 47 00:02:58,800 --> 00:03:03,800 na conjuntura que Vera Pinto está apontando aqui nesse texto, nesse ACTII, 48 00:03:03,800 --> 00:03:09,800 estava tendo uma inclinação muito grande para a educação técnica, né, tecnológica. 49 00:03:09,800 --> 00:03:15,300 E aí, esse era um dos pontos, inclusive, cruciais da reforma universitária 50 00:03:15,300 --> 00:03:17,800 que está sendo debatido ao longo do livro todo, né. 51 00:03:17,800 --> 00:03:21,300 Havia duas frentes, basicamente, aí. 52 00:03:21,300 --> 00:03:24,800 E uma era a frente que defendia uma educação que ele chama de humanista, né, 53 00:03:24,800 --> 00:03:29,800 da filosofia e etc., que ele aponta como sendo relacionada 54 00:03:29,800 --> 00:03:35,800 às partes mais conservadoras dos professores, 55 00:03:35,800 --> 00:03:41,800 que não estavam interessados em pluralizar e orientar 56 00:03:41,800 --> 00:03:44,800 de maneira mais desenvolvimentista a educação. 57 00:03:44,800 --> 00:03:47,800 E a outra é justamente esse fator tecnológico, né, 58 00:03:47,800 --> 00:03:52,300 que é essa frente tecnológica dos professores que estavam defendendo 59 00:03:52,300 --> 00:03:57,300 uma educação mais aplicada, digamos assim, aos modos de produção. 60 00:03:57,300 --> 00:04:00,800 E aí Vera Pinto evidentemente aponta que isso, como tudo, 61 00:04:00,800 --> 00:04:06,800 na sociedade capitalista, está vinculada às necessidades da classe dominante 62 00:04:06,800 --> 00:04:11,800 de formar uma massa de trabalhadores que possa ser explorada 63 00:04:11,800 --> 00:04:17,300 nesses ditames da conjuntura atual, assim. 64 00:04:17,300 --> 00:04:21,300 Então nada mais é do que, embora na aparência isso mude, né, 65 00:04:21,300 --> 00:04:24,300 e mude os conteúdos, por exemplo, do currículo, 66 00:04:24,300 --> 00:04:27,300 no final das contas a universidade ainda vai estar se vindo 67 00:04:27,300 --> 00:04:32,300 às classes dominantes. Mas aí ele aponta que aí há uma possibilidade 68 00:04:32,300 --> 00:04:37,300 da gente se libertar e os estudantes, sobretudo, se emanciparem 69 00:04:37,300 --> 00:04:41,300 a partir dessa janela que se abre na conjuntura 70 00:04:41,300 --> 00:04:45,800 de uma educação realmente relacionada com a cultura brasileira. 71 00:04:45,800 --> 00:04:48,800 E a Yefren trouxe uma contextualização histórica, né, Rafael Yefren, 72 00:04:48,800 --> 00:04:52,300 que vai se apresentar aí para vocês, muito significativa, 73 00:04:52,300 --> 00:04:56,800 sobretudo, do ensino técnico no Brasil e das escolas técnicas, 74 00:04:56,800 --> 00:04:59,800 dos Cephetes e que depois se tornaram Yefres. 75 00:04:59,800 --> 00:05:03,800 Que eu vou passar para ele falar um pouco aí desse panorama histórico 76 00:05:03,800 --> 00:05:09,300 que tem tudo a ver com essa frente da educação técnica 77 00:05:09,300 --> 00:05:12,300 que a Varo Verapim tá colocando aí. Yefren, é contigo. 78 00:05:12,300 --> 00:05:15,800 Oi gente, boa noite, meu nome é Rafael Yefren, 79 00:05:15,800 --> 00:05:22,300 eu sou professor do IFBB Campos Cabedelo e atualmente doutorando na FAUSP. 80 00:05:22,300 --> 00:05:28,300 Então, o ensino técnico brasileiro, e aí vou tentar focar na escola técnica, 81 00:05:28,300 --> 00:05:33,300 certo, a partir da década de 40, se desenvolve, sobretudo, 82 00:05:33,300 --> 00:05:35,800 a partir dos interesses da classe dominante. 83 00:05:35,800 --> 00:05:42,300 E o formato de ensino vai ser dado a partir dos interesses da classe, 84 00:05:42,300 --> 00:05:47,300 como a classe dominante visualizava que deveria ser a formação da classe trabalhadora, 85 00:05:47,300 --> 00:05:51,800 que era uma formação meramente operativa, né, 86 00:05:51,800 --> 00:05:55,800 assim, aprender a executar alguns trabalhos, algumas tarefas mais simples, 87 00:05:55,800 --> 00:06:03,800 mas sem uma formação geral, humanística, de mais vulto. 88 00:06:03,800 --> 00:06:08,300 Só que as escolas técnicas, elas, de alguma maneira, 89 00:06:08,300 --> 00:06:11,300 elas conseguem resistir um pouco a esse processo 90 00:06:11,300 --> 00:06:15,800 e conseguem formar muito bem seus técnicos com uma formação geral, 91 00:06:15,800 --> 00:06:18,300 uma formação propiedêutica de qualidade, 92 00:06:18,300 --> 00:06:25,300 e isso acaba virando um calo no sapato da elite econômica. 93 00:06:25,300 --> 00:06:30,300 E esse calo vai se agudizar com o SEFET, 94 00:06:30,300 --> 00:06:33,300 porque as escolas técnicas viram SEFET, 95 00:06:33,300 --> 00:06:36,300 começam a virar SEFETs a partir da década de 70, 96 00:06:36,300 --> 00:06:40,300 que é justamente para ofertar cursos superiores de tecnologia, 97 00:06:40,300 --> 00:06:43,300 que eram tiros como técnicos de nível superior, 98 00:06:43,300 --> 00:06:46,300 que deveriam ter alguma formação teórica, 99 00:06:46,300 --> 00:06:50,800 mas era para, de fato, preparar gente um pouquinho mais qualificada 100 00:06:50,800 --> 00:06:52,800 do que o técnico para o mercado de trabalho 101 00:06:52,800 --> 00:06:55,300 e para atender os interesses das empresas. 102 00:06:55,300 --> 00:06:57,300 A lógica era essa. 103 00:06:57,300 --> 00:07:01,300 No governo da FHC, os SEFETs vão sofrer um ataque 104 00:07:01,300 --> 00:07:04,800 a partir da reforma do ensino profissional, 105 00:07:04,800 --> 00:07:10,300 que começa em 1995, mas vai se conformar melhor em 1997, 106 00:07:10,300 --> 00:07:17,300 com a tentativa de matar o ensino integrado, 107 00:07:17,300 --> 00:07:23,300 que na verdade já era uma coisa que eles queriam revogar a todo custo, 108 00:07:23,300 --> 00:07:27,300 porque eles não queriam permitir nenhuma possibilidade de politequenia, 109 00:07:27,300 --> 00:07:33,300 e aí no sentido de se formar um cidadão, uma cidadã, 110 00:07:33,300 --> 00:07:38,300 pensantes e aptos, aptos e aptas para um mundo de trabalho 111 00:07:38,300 --> 00:07:41,300 com um posicionamento crítico de realidade, 112 00:07:41,300 --> 00:07:46,300 mas que também saibam executar e realizar criativamente o seu trabalho. 113 00:07:46,300 --> 00:07:52,300 No governo Lula, isso muda um pouco, essa reforma. 114 00:07:52,300 --> 00:07:56,300 Ai meu Deus, eu me enrolei aqui um pouquinho, desculpa. 115 00:07:56,300 --> 00:08:01,300 Essa reforma vai ser um tanto quanto revogada, mas não de todo. 116 00:08:01,300 --> 00:08:06,300 Ainda vai haver um processo de continuidade do projeto neoliberal, 117 00:08:06,300 --> 00:08:12,300 que isso a gente vê até hoje, e os IFs, os institutos federais, 118 00:08:12,300 --> 00:08:17,300 eles são uma maneira que o governo encontrou 119 00:08:17,300 --> 00:08:22,300 de não permitir que se multipliquem universidades tecnológicas, 120 00:08:22,300 --> 00:08:26,300 porque é um medo do governo, e na verdade da classe, dos professores, 121 00:08:26,300 --> 00:08:30,300 também dos estudantes, de que se matassem essa formação de qualidade, 122 00:08:30,300 --> 00:08:34,300 técnica e de qualidade, com relação à propriedade de qualidade, 123 00:08:34,300 --> 00:08:39,300 que isso fosse acabado com as universidades tecnológicas. 124 00:08:39,300 --> 00:08:43,300 A gente hoje em dia só tem uma, inclusive uma das críticas 125 00:08:43,300 --> 00:08:45,300 a esse modelo de universidade tecnológica 126 00:08:45,300 --> 00:08:48,300 é porque as universidades não deveriam ter adjetivos. 127 00:08:48,300 --> 00:08:54,300 E aí é uma questão a se pensar, por que não uma universidade tecnológica 128 00:08:54,300 --> 00:08:56,300 ou por que não uma universidade voltada para o trabalho? 129 00:08:56,300 --> 00:08:59,300 Agora, que tecnologia é essa? Que trabalho é esse? 130 00:08:59,300 --> 00:09:05,300 Que tipo de relação social que essas pessoas vão se submeter, 131 00:09:05,300 --> 00:09:08,300 vão reproduzir ou vão transformar? 132 00:09:08,300 --> 00:09:12,300 E aí, enfim, os IFs acabam entrando nesse jogo 133 00:09:12,300 --> 00:09:17,300 com uma nova institucionalidade, numa esperança de uma politecnia 134 00:09:17,300 --> 00:09:22,300 que ainda não veio, mas a gente ainda está por aí tentando, 135 00:09:22,300 --> 00:09:28,300 brigando, lutando, fazendo greve, para melhores condições de trabalho, 136 00:09:28,300 --> 00:09:33,300 de formação e de construção de outras realidades. 137 00:09:33,300 --> 00:09:36,300 E agora a gente passa a palavra para Ricardo 138 00:09:36,300 --> 00:09:39,300 arrematar aí com as propostas do Vieira Pinta. 139 00:09:39,300 --> 00:09:41,300 Pessoal, bom dia, boa tarde, boa noite. 140 00:09:41,300 --> 00:09:44,300 Estou aqui falando do Rio de Janeiro, aqui é Ricardo Azul, 141 00:09:44,300 --> 00:09:48,300 falando direto da Enzo e, assim, só para lembrar também 142 00:09:48,300 --> 00:09:51,300 que durante a discussão, um dos pontos que foi discutido 143 00:09:51,300 --> 00:09:55,300 e levantado pelo Edu, foi também a nossa posição contra, 144 00:09:55,300 --> 00:09:58,300 e pedindo, na verdade, a revogação do novo ensino médio, 145 00:09:58,300 --> 00:10:01,300 que foi bastante debatido aqui, que a gente está falando muito 146 00:10:01,300 --> 00:10:03,300 sobre universidade, a gente falou sobre ensino técnico, 147 00:10:03,300 --> 00:10:08,300 mas também entrou em pauta a discussão sobre o ensino médio. 148 00:10:08,300 --> 00:10:13,300 Então, só para resumo de conversa, é que o projeto de ensino médio 149 00:10:13,300 --> 00:10:17,300 que a gente tem aí herdado do golpista Michel Temer, 150 00:10:17,300 --> 00:10:20,300 é uma proposta que, na verdade, precariza ainda mais 151 00:10:20,300 --> 00:10:22,300 quem já tem ensino precariado. 152 00:10:22,300 --> 00:10:26,300 Botando uma situação de quadros formativos, 153 00:10:26,300 --> 00:10:30,300 percursos formativos dentro desse ensino médio, 154 00:10:30,300 --> 00:10:35,300 que, na verdade, prejudicam quem já está numa situação precária, 155 00:10:35,300 --> 00:10:38,300 porque não vai ter possibilidade de outros percursos formativos 156 00:10:38,300 --> 00:10:42,300 de fazer uma formação adequada, e ainda com a suplementação dos canais. 157 00:10:42,300 --> 00:10:46,300 Ou seja, que o debate sobre essas reformas, 158 00:10:46,300 --> 00:10:49,300 tanto do ensino médio, do ensino técnico, da universidade, 159 00:10:49,300 --> 00:10:52,300 ele é, como já falou o Álvaro Vieira Pinto, 160 00:10:52,300 --> 00:10:55,300 ele é um debate que tem que ser tomado do ponto de vista político, 161 00:10:55,300 --> 00:10:58,300 e não apenas exclusivamente pedagógico. 162 00:10:58,300 --> 00:11:01,300 E aí, voltando, então, ao ponto político, 163 00:11:01,300 --> 00:11:04,300 é muito interessante no fechamento do livro, 164 00:11:04,300 --> 00:11:06,300 no capítulo de medidas práticas para reforma, 165 00:11:06,300 --> 00:11:09,300 como é que o Vieira Pinto está propondo, 166 00:11:09,300 --> 00:11:13,300 por onde deve passar essa revolta política da universidade. 167 00:11:13,300 --> 00:11:16,300 A primeira proposta que ele traz, lá no Miada, 168 00:11:16,300 --> 00:11:19,300 é o co-governo, e ele começa falando assim, 169 00:11:19,300 --> 00:11:22,300 essa talvez seja a mais escandalosa das medidas propostas, 170 00:11:22,300 --> 00:11:25,300 seguramente a que mais resistência despertará. 171 00:11:25,300 --> 00:11:31,300 Ele vai falar que o co-governo só poderá me derrotar 172 00:11:31,300 --> 00:11:33,300 aqueles elementos da classe professora 173 00:11:33,300 --> 00:11:36,300 o que receia em ver denunciado a sua incapacidade intelectual, 174 00:11:36,300 --> 00:11:38,300 ineficiência docente, 175 00:11:38,300 --> 00:11:40,300 desqualificações morais, 176 00:11:40,300 --> 00:11:42,300 ou levados ao conhecimento público e seus compromissos 177 00:11:42,300 --> 00:11:45,300 com grupos econômicos e financeiros dominantes. 178 00:11:45,300 --> 00:11:48,300 E aí ele vai destrinchando e reforçando essa ideia 179 00:11:48,300 --> 00:11:51,300 de que o papel da universidade tem sido 180 00:11:51,300 --> 00:11:55,300 sistematicamente reforçado do ponto de vista da classe dominante, 181 00:11:55,300 --> 00:11:59,300 e que, portanto, essa disputa política passaria, no primeiro ponto, 182 00:11:59,300 --> 00:12:04,300 por mudar como a gestão da própria universidade é realizada. 183 00:12:04,300 --> 00:12:07,300 A segunda proposta dele é a supressão da trincheira do vestibular, 184 00:12:07,300 --> 00:12:10,300 substituída pela verificação do mérito do estudante 185 00:12:10,300 --> 00:12:14,300 depois de lhe haver sido dada a qualidade do estudante 186 00:12:14,300 --> 00:12:16,300 e as condições materiais para estudar, 187 00:12:16,300 --> 00:12:18,300 admitindo-o numa universidade. 188 00:12:18,300 --> 00:12:21,300 Ou seja, entra primeiro, tem a condição de estudar, 189 00:12:21,300 --> 00:12:24,300 e aí é assim que a avalia a permanência. 190 00:12:24,300 --> 00:12:27,300 Muito diferente de falar que tem uma barreira 191 00:12:27,300 --> 00:12:29,300 que só alunos vão passar. 192 00:12:29,300 --> 00:12:32,300 A terceira proposta é universidade do povo, 193 00:12:32,300 --> 00:12:34,300 ou seja, que ao eliminar o vestibular 194 00:12:34,300 --> 00:12:36,300 terá sido dado o passo principal 195 00:12:36,300 --> 00:12:39,300 para destituir a universidade da função aristocrática 196 00:12:39,300 --> 00:12:41,300 de culpa em lado do saber, 197 00:12:41,300 --> 00:12:44,300 integrando-a no processo total vencido das massas 198 00:12:44,300 --> 00:12:48,300 enquanto procedimento para aquisição da cultura do país. 199 00:12:48,300 --> 00:12:54,300 E aí ele volta nessa ideia de que a universidade é um passo formativo 200 00:12:54,300 --> 00:12:57,300 e que deve estar no perspectivo de todos os nizadãos 201 00:12:57,300 --> 00:12:58,300 e não de apenas alguns. 202 00:12:58,300 --> 00:13:00,300 O quarto passo, ele vai falar de uma luta 203 00:13:00,300 --> 00:13:04,300 contra a vitalidade da cátedra enquanto instrumento retardador 204 00:13:04,300 --> 00:13:06,300 de processo transformador da universidade, 205 00:13:06,300 --> 00:13:11,300 ou seja, aquelas disciplinas, aquelas coisas que são sempre mantidas 206 00:13:11,300 --> 00:13:14,300 e nunca são alteradas, que precisam ser disputadas, 207 00:13:14,300 --> 00:13:18,300 e disputadas também nesses termos que o Edu apresentou antes, 208 00:13:18,300 --> 00:13:22,300 porque ela também manifesta qual a vocação da universidade 209 00:13:22,300 --> 00:13:23,300 e manifesta na luta do classe. 210 00:13:23,300 --> 00:13:26,300 E, por fim, um entrosamento, 211 00:13:26,300 --> 00:13:28,300 a quinto passo é o entrosamento das instituições 212 00:13:28,300 --> 00:13:31,300 dentro do interior com centro social de produção, 213 00:13:31,300 --> 00:13:33,300 fábricas, fazendas e empresas. 214 00:13:33,300 --> 00:13:37,300 E aí a gente volta para o ponto que o Evren trouxe aqui para a gente, 215 00:13:37,300 --> 00:13:44,300 de pensar essa relação entre educação superior tecnológica, 216 00:13:44,300 --> 00:13:46,300 educação superior para o trabalho, 217 00:13:46,300 --> 00:13:50,300 e foi até o ponto de discussão que a gente teve nos outros encontros. 218 00:13:50,300 --> 00:13:52,300 Qual é a vocação da universidade? 219 00:13:52,300 --> 00:13:59,300 É apenas uma cultura humanista, conservadora e, vamos dizer, 220 00:13:59,300 --> 00:14:03,300 voltada para os privilégios de classe, 221 00:14:03,300 --> 00:14:06,300 ou ela deve ser voltada para o trabalho e atender as questões materiais? 222 00:14:06,300 --> 00:14:08,300 Quer dizer, não é só um, não é só outro. 223 00:14:08,300 --> 00:14:10,300 A gente começa a entender que, por exemplo, 224 00:14:10,300 --> 00:14:12,300 essa ideia de formação para o trabalho, 225 00:14:12,300 --> 00:14:15,300 ela não deve ser faltada pelas classes dominantes, 226 00:14:15,300 --> 00:14:19,300 ela não deve ser faltada pelos outros atos que a necessidade do mercado precisa. 227 00:14:19,300 --> 00:14:23,300 Porque justamente a partir de uma perspectiva política, 228 00:14:23,300 --> 00:14:27,300 essa formação para o mercado também é uma formação humanística, 229 00:14:27,300 --> 00:14:31,300 também é uma formação política, também é uma formação que, 230 00:14:31,300 --> 00:14:35,300 nos termos praerianos, seria uma formação crítica de conscientização, 231 00:14:35,300 --> 00:14:37,300 de se entender no seu lugar. 232 00:14:37,300 --> 00:14:39,300 E o próprio Guenapinto, ao longo do livro, 233 00:14:39,300 --> 00:14:44,300 também vai relatar essa ideia desse papel de formação para a vida. 234 00:14:44,300 --> 00:14:46,300 Ele passa por uma visão política, 235 00:14:46,300 --> 00:14:49,300 exatamente o papel que a UNE cumpre naquele momento, 236 00:14:49,300 --> 00:14:51,300 de estar disputando essas coisas, 237 00:14:51,300 --> 00:14:55,300 de estar disputando politicamente o lugar da universidade e sua reforma. 238 00:14:55,300 --> 00:14:59,300 Ele também faz parte do processo formador de disputa, 239 00:14:59,300 --> 00:15:03,300 aquela máxima que se estudante deve apenas estudar. 240 00:15:03,300 --> 00:15:05,300 Ele vai dizer que não, 241 00:15:05,300 --> 00:15:09,300 que só em lugares muito privilegiados se pode apenas estudar. 242 00:15:09,300 --> 00:15:12,300 O estudante deve se engajar nessas lutas que também são formativas. 243 00:15:12,300 --> 00:15:17,300 E indo de volta com o ponto que o Edu estava falando logo no começo, 244 00:15:17,300 --> 00:15:19,300 de que paraquias servem as greves. 245 00:15:19,300 --> 00:15:24,300 Então, a greve também cumpre um desses papéis formativos aqui, 246 00:15:24,300 --> 00:15:27,300 de disputar e pensar essa universidade e que, 247 00:15:27,300 --> 00:15:31,300 pelo que tudo indica e pelos caminhos que seguimos aqui, 248 00:15:31,300 --> 00:15:35,300 observando os grupos dados em relação ao novo ensino médio, 249 00:15:35,300 --> 00:15:38,300 ao ensino técnico no país e nas universidades, 250 00:15:38,300 --> 00:15:40,300 ainda tem muito que se lutar, 251 00:15:40,300 --> 00:15:44,300 ainda tem muito que se disputar para que esse projeto de universidade, 252 00:15:44,300 --> 00:15:47,300 que inclusive está sendo apontado aqui pelo Guenapinto, 253 00:15:47,300 --> 00:15:50,300 que isso possa realmente, quem sabe um dia, 254 00:15:50,300 --> 00:15:52,300 chegar mais próximo de acontecer, 255 00:15:52,300 --> 00:15:56,300 porque ainda está muito longe esse projeto que está apontado. 256 00:15:56,300 --> 00:16:00,300 Enfim, deixo aqui a palavra para o nosso ofedrion de hoje, o Edu, 257 00:16:00,300 --> 00:16:03,300 para fazer um fechamento aí. Boa noite. 258 00:16:03,300 --> 00:16:05,300 Obrigado, Ricardo. Obrigado, Efrem. 259 00:16:05,300 --> 00:16:07,300 Excelentes contribuições. 260 00:16:07,300 --> 00:16:14,300 Eu queria só ler o último parágrafo mesmo que Alvaro Vera Pinto escreve nesse livro, 261 00:16:14,300 --> 00:16:17,300 que de fato é a síntese, 262 00:16:17,300 --> 00:16:21,300 muito bem cristalizada do que a gente vem discutindo nas últimas semanas, 263 00:16:21,300 --> 00:16:23,300 nos últimos meses aí, na verdade. 264 00:16:23,300 --> 00:16:24,300 E ele diz o seguinte, 265 00:16:24,300 --> 00:16:29,300 "O objetivo da reforma universitária é identificar a universidade com a sociedade brasileira, 266 00:16:29,300 --> 00:16:33,300 no seu esforço de desenvolvimento material e espiritual, 267 00:16:33,300 --> 00:16:37,300 criando e semeando a cultura, a fim de que esta, juntamente com a liberdade, 268 00:16:37,300 --> 00:16:41,300 venham se tornar os bens mais preciosos possuídos por todo o homem do povo". 269 00:16:41,300 --> 00:16:45,300 E é exatamente isso que a gente tem tentado delinear aqui nesses encontros, 270 00:16:45,300 --> 00:16:50,300 pelo que a gente tem notado dentro das salas de aula, dentro das universidades 271 00:16:50,300 --> 00:16:54,300 e também fora, também na rua, assim, na nossa movimentação política, 272 00:16:54,300 --> 00:16:58,300 no nosso modo de movimentação de engajamento ativo com a realidade, 273 00:16:58,300 --> 00:17:04,300 não só na nossa prática profissional, docente e de pesquisa, 274 00:17:04,300 --> 00:17:07,300 mas também na nossa realidade imediata. 275 00:17:07,300 --> 00:17:13,300 Eu queria muito agradecer essa jornada aí, esse primeiro ciclo de podcast. 276 00:17:13,300 --> 00:17:15,300 Para mim foi muito importante, durante a greve, 277 00:17:15,300 --> 00:17:20,300 estar aqui com vocês, lendo e discutindo esses pontos, 278 00:17:20,300 --> 00:17:25,300 para conseguir me orientar nesse caos que foi esse processo, 279 00:17:25,300 --> 00:17:28,300 nesse caos de muito aprendizado, inclusive. 280 00:17:28,300 --> 00:17:33,300 E espero as próximas aí, espero mais aprendizado e espero mais engajamento. 281 00:17:33,300 --> 00:17:38,300 Continuaremos, vamos tentar, dentro da medida do nosso cargo horário, 282 00:17:38,300 --> 00:17:41,300 continuar mobilizados e discutindo todos esses pontos. 283 00:17:41,300 --> 00:17:46,300 E convido todo mundo a se integrar aí, ficar ligado aqui no canal, 284 00:17:46,300 --> 00:17:49,300 sobretudo, mas também se inscrever na nossa newsletter, 285 00:17:49,300 --> 00:17:51,300 entrar lá no site Design e Operação, 286 00:17:51,300 --> 00:17:56,300 porque em breve vamos começar um novo ciclo de discussão. 287 00:17:56,300 --> 00:17:59,300 Estamos já debatendo, já fermentando algumas ideias aí. 288 00:17:59,300 --> 00:18:04,300 Ao que tudo indica, a gente vai discutir nossa própria produção da rede 289 00:18:04,300 --> 00:18:09,300 e começar a cristalizar um pouco do nosso entendimento do que é design, 290 00:18:09,300 --> 00:18:14,300 da relação do design com operação e todo esse sistema de exploração capitalista. 291 00:18:14,300 --> 00:18:18,300 Finalizamos aqui o nosso ciclo de greve. 292 00:18:18,300 --> 00:18:20,300 Espero que vocês tenham curtido, minha gente, 293 00:18:20,300 --> 00:18:24,300 e acompanhem para as próximas aventuras que a gente vai ter. 294 00:18:24,300 --> 00:18:26,300 Obrigado e adeus! 295 00:18:26,300 --> 00:18:45,300 ♫