Educação estilo battle royale (S1E4)

Podcast Design & Opressão
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Educação estilo battle royale (S1E4)
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No quarto episódio do podcast do grupo de estudos Design Opressão, discutimos os capítulos “Universidades e Classe Sociais” e “Reforma Universitária” do livro “A Questão da Universidade”, de Álvaro Vieira Pinto. A conversa destacou a diferença entre o engajamento político dos estudantes na década de 1960 e a despolitização observada atualmente, em 2024. A introdução foi marcada pela música “Fé Cega, Faca Amolada” de Milton Nascimento, simbolizando a resistência e a preparação para a luta. Naquela época, a classe estudantil estava diretamente envolvida nos debates sociais e políticos, enquanto hoje, em grande parte devido ao avanço do neoliberalismo, os estudantes e muitos docentes têm se afastado dessas discussões.

A análise trouxe à tona como a universidade tem sido pressionada a provar sua produtividade dentro do contexto neoliberal, o que tem distorcido sua função e relevância. A crítica ao conceito de autonomia universitária de Vieira Pinto mostrou que, ao se isolar das questões sociais, a universidade perpetua a exclusão e serve predominantemente aos interesses da classe dominante. A discussão fez analogias com o filme japonês “Battle Royale” (2000), retratando uma sociedade competitiva e individualista, refletindo a realidade atual dos estudantes que competem entre si em vez de se unirem contra as desigualdades estruturais. A necessidade de uma reorientação para que a universidade atenda verdadeiramente aos interesses do povo foi um ponto central, questionando como essa instituição pode se reformar para evitar a reprodução das desigualdades sociais.

Por fim, a discussão abordou a formação e atuação de designers e professores, historicamente vinculados aos interesses da burguesia. A necessidade de desenvolver uma consciência crítica e promover a união para mudanças significativas foi enfatizada. Inspirados por críticas à subjetivação neoliberal, como as feitas por Mark Fisher em “Realismo Capitalista”, o grupo concluiu com um apelo à resistência coletiva e à transformação da universidade e do design, para que sirvam verdadeiramente aos interesses populares e não apenas reproduzam as estruturas de poder existentes. Para isso, é preciso explorar mais o lugar dos usuários, pois assim como os professores estão do lado da classe dominante na universidade, os designers também estão do mesmo lado na indústria.

O episódio terminou com a música “Revólver” de Flávia Ferro, simbolizando a arte como forma de resistência e construção de um corpo coletivo capaz de fazer frente à opressão.

Transcrição gerada por IA

Fred van Amstel: É isso aí, gente. E aí, vocês estão com as suas facas amoladas preparadas hoje para o quarto episódio do grupo de estudos Design Opressão. Ou melhor, a nossa temporada, primeira temporada do grupo de estudos Design Opressão intitulada “Greve”. Estamos aqui debatendo a leitura do livro “A Questão da Universidade”, de Álvaro Vieira Pinto. Hoje, especificamente, debatemos os capítulos “Universidades e Classe Sociais” até o final do capítulo sobre reforma universitária, não é isso? Deixa eu ver aqui. É, até a execução da reforma universitária.

Então é isso, eu estou abrindo aqui o nosso encontro. Eu sou o Fred Van Damenst, eu falo da Universidade da Flórida. Faço aqui a palavra com meus colegas aqui de debate. Alguém que gostaria, então, de puxar essa conversa? Vocês estão com a faca amolada aí? Faca amolada para quê, gente? Onde vocês vão colocar essa faca?

Eduardo Souza: Eu vou, porque eu estou com essa faca amolada.

Fred van Amstel: Pode falar quem você é, por favor, aproveita aí.

Eduardo Souza: Eu sou o Eduardo Souza…

Fred van Amstel: Que mato que você veio?

Eduardo Souza: Sou do Recife, professor do IFPE, acabei de voltar de um ato aqui da “Greve”, que, enfim, dá o contexto da nossa atuação aqui nessa discussão. E aí, eu voltei e vim ler o texto. Acho que é uma coisa que me impactou muito nessa comparação, desse contexto que a gente está vivendo atualmente com esse contexto que Vieira Pinto está apresentando para a gente lá em 62. E retomando, talvez, até um pouco do primeiro episódio mesmo assim desse podcast, é que Álvaro Vieira Pinto faz uma análise nesses capítulos sociológicos da divisão de classes interna à universidade, e vai apontando mais ou menos quais seriam os objetivos de cada uma dessas classes, e como eles operam para viabilizar esses objetivos. E o que me surpreendeu, o que me pegou muito assim, é que nesse contexto que ele considera pré-revolucionário em 62, existia uma clareza e uma politização da classe estudantil que era muito visível. Tanto é que o próprio livro, como a gente mencionou também, ele foi escrito a pedido da UNE, por Álvaro Vieira Pinto. Então, a classe estudantil, como ele coloca no texto, ela estava engajada diretamente nos debates políticos mais gerais da sociedade, e não estava restrita essa questão meramente pedagógica da universidade. E por outro lado, ele aponta que os professores, que via de regra, eles servem aos interesses da classe dominante, da burguesia, eles, em um breve momento, engajariam numa posição de trabalhador quando eles fossem pleitear por melhores condições de trabalho, melhores salários, etc., etc. O que me surpreende é que hoje em dia, em 2024, com o auge do neoliberalismo e dessa subjetividade neoliberal, esse contexto está completamente diferente, e muito pior, muito mais rebaixado e muito mais despolitizado. Hoje, a classe estudantil, eu diria que não tem uma função primordial no debate político do país, nem mesmo no debate político da universidade, na interna universidade, sobretudo depois da pandemia, e aí a gente pode discutir quais seriam esses fatores, mas hoje em dia acho que é claro que a classe estudantil não exerce esse papel político. E visto o que eu tenho visto durante essa greve de muitos colegas docentes se posicionando contra a continuidade da greve, nem para se colocar no lugar de trabalhador, mas os docentes fazem na hora de pedir essas melhorias para o seu trabalho. Então é um rebaixamento despolitizado no sentido de que todo mundo está se ausentando desse debate político, todo mundo está escolhendo não participar desse debate, enfim, com as que razões, algumas delas não fazem por medo, outras não fazem por desinteresse mesmo, outras não fazem por conveniência, mas o fato é que parece que não há mais uma direção política progressista de fato, nos termos que Álvaro Vieira Pinto está colocando aqui nesse momento pré-revolucionário. Então acho que talvez por isso essa leitura tenha me impactado muito e acho que talvez ela seja ainda mais urgente hoje em dia. E aí eu repasso para vocês continuarem essa discussão.

Fred van Amstel: Eu vou pegar a fala de volta aqui porque a nossa discussão, para mim, foi mais impactante que a leitura, curiosamente, porque essa já é a minha segunda leitura do livro. E enquanto a gente estava debatendo hoje, eu me lembrei do Battle Royale, como o pessoal fala no Brasil, que é um filme japonês dos anos 2000, que eu acho que epitomiza, sintetiza, que é uma espécie de marco histórico, esse estado atual que a juventude vive diante de uma tendência neoliberal, de neoliberalização de todas as relações sociais. Então o indivíduo passa a ser, digamos assim, a unidade política básica e ele precisa se posicionar politicamente em relação a tudo, mas se posicionar no sentido de se defender, de sobreviver dentro de um ambiente político extremamente hostil. Então no filme são estudantes secundaristas que vão para uma ilha isolada e fazer aquela espécie que a gente hoje chama de jogos vorazes, o mata-mata, todos contra todos, e só vai sobreviver um estudante. É bem brutal o filme, mas é uma espécie de uma metáfora muito óbvia da competitividade no ambiente acadêmico no Japão, que foi um dos países que antecipou o neoliberalismo muito por conta da influência estadunidense. Os Estados Unidos implementou, testou, fez uma espécie de laboratório de neoliberalismo em vários países que deviam a eles, no caso o Japão, mas antes disso no Chile e também no Brasil em uma certa medida, apesar de que a gente resistiu. A gente resistiu porque a gente tinha pessoas como o nosso querido Milton Nascimento com essa canção de abertura, “Fé cega e faca amolada”, porque nessa canção ele está colocando justamente essa contradição, de que você está ali com o brilho cego de paixão e fé, e faca amolada, quer dizer, se acontecer alguma coisa, você tem paixão, tem fé, mas se acontecer alguma coisa, você tem a faca amolada do teu lado. Então você não acredita mais na estrada, naquela madrugada, vai ser tudo muito tranquilo, tudo bem, vai ser precisado, tudo bem preparado, e eu acho que essa faca amolada que ele traz aqui é um pouco essa produção de subjetividade que é necessária para sobreviver nesse contexto.

Agora a questão que eu acho que o Álvaro Vieira Pinto está agitando a gente a antecipar, imagina, ele escreveu, olha só esse trecho, eu vou ler aqui, porque ele antecipou o battle royale em 50 anos pelo menos, muito antes das pessoas falarem em neoliberalismo, não existe nem esse conceito, mas ele vaticinou lá pelas tantas na página 65 dessa edição que a gente está lendo aqui, 93, ele diz assim, “toda vez que uma classe é homogênea por efeito dos seus comuns interesses, decorrentes da posição que ocupa no processo da produção social, a discórdia universal entre os seus membros, ou seja, a luta de todos contra todos, constitui a expressão de harmonia particular e da classe enquanto tal”. O battle royale é um fenômeno sintomático de uma sociedade em que a luta de classes se acomodou e ela acaba sendo expressa no setor público, na esfera pública, como um simulacro. Então você tem brigas entre os mesmos partidos, você tem brigas entre amigos, você tem brigas entre professores, brigas entre estudantes, mas as classes não se desafiam para um embate que terminaria com essa divisão entre classes. Isso, claro, eu acho que também a gente poderia estender para outras formas de divisão social. Aqui a gente está focando especificamente como que as classes sociais aparecem dentro da universidade, então seria o caso da homogeneidade entre as opiniões, os posicionamentos, professores e estudantes, tanto professores quanto estudantes competindo com faca amolada para sobreviver, seja nos índices de produtividade que a gente tem que bater, seja na nota que a gente tem que conseguir no boletim ou no histórico escolar. É muito complicada essa situação que a gente vive. Como é que você vai fazer uma reforma universitária para orientar a universidade para o povo se o povo está com faca amolada, está todo mundo armado até os dentes, não só com faca de verdade, mas como argumentos, xingamentos, várias formas de violência simbólica.

Ricardo Arthur: Vou puxar aqui, então, também afiando a minha faca, falando aqui, Ricardo Arthur, diretor da ESDI no Rio de Janeiro e concordando com o Fred, que universidade é essa para quem? Essa é um ponto, é uma tônica que está dentro da discussão do livro como um todo. E ele retoma, então, nesses capítulos, o Álvaro Vieira Pinto volta à problemática da exclusão de para quem, qual o sentido dessa universidade, para quem ela está atendendo. E a gente, no debate político, aqui que a gente estava discutindo um pouco o texto, a gente trouxe isso para, nesse contexto de 61, a gente tinha uma ideia de Brasil, uma noção do que estava acontecendo nos movimentos sociais, o que estava sendo reivindicado. E agora? O que está sendo reivindicado politicamente? A gente, obviamente, não tinha esse cenário do neoliberalismo que a gente tem hoje, dessa perspectiva, a gente comentou também nessa presença forte evangélica que também quer intervir sobre a universidade, sobre o que está sendo ensinado. Então, tem uma série de disputas que a gente vai ver isso, por exemplo, no movimento escola sem partido, que a gente vai ver isso nessa crítica à universidade, à universidade como lugar da balbúrdia, à universidade como lugar improdutivo. E isso gera um tipo de perspectiva e de moeda que vai distorcendo para que serve essa universidade. A universidade passa a ser questionada também dessa perspectiva neoliberal. E qual a solução que se dá para isso? Mais neoliberalismo. Na prática se fala o seguinte, a universidade tem que se provar, ela tem que ter produtividade, então ela incentiva essa competição, ela faz com que os professores agravem esse grau de disputa por mais pontos, mais artigos, mais orientando-se, mais produção, mais verbas, mais recursos. Para quem isso é feito? Então, isso é uma questão que se coloca, para garantir mais recursos, para garantir que a universidade volta a funcionar, para que ela atenda um estudo melhor. Então, essas questões que parecem absolutamente pertinentes ao contexto atual, e a gente está falando nesse cenário, não é o cenário pelo qual o Álvaro Vieira está falando, ele volta lá atrás para debater, para falar “olha, ainda assim é preciso de uma postura ainda mais radical para a perspectiva universitária, é preciso que essa reforma seja uma reforma que atenda politicamente aos interesses do povo”. Que povo é esse? É o povo que está demandando direitos, que está demandando terra, que está demandando sair de um grau de precariedade múltiplo de um país subdesenvolvido, em que é importante esse engajamento na universidade.

Então, ele vai falar, o Álvaro Vieira Pinto chega a falar desse ponto de vista de embates, de que a autonomia, a ideia de autonomia universitária como uma universidade apartada do resto, que tem a sua própria gestão, era um conceito nocivo naquele momento. E é muito interessante porque parece contraditório, e aí ele vai tecer porque ele vai falar uma crítica à autonomia, que ele vai falar “olha, esse conceito perverso vai garantir que a universidade continue impermeável às questões sociais e do povo enquanto ela é feita simplesmente atendendo a interesses e a valores da classe dominante para a qual ela é feita para reproduzir”. E ela vai falar que essa dominância de uma classe burguesa sobre a universidade, que detém esse poder tanto ideológico quanto esse poder mesmo de operar a organização da universidade, de atribuir recursos, de retirar recursos, esse poder, ele continua em conteste. Ele já estava lá e continua em conteste hoje. E aí todas as outras questões meio que o derivam disso, porque a gente consegue pensar assim, o Álvaro Vieira Pinto começa, ele questiona, por exemplo, o vestibular e sugere de certa maneira uma abolição do vestibular. “Ah, por que a gente não consegue aplicar isso hoje, garantir que todo mundo possa entrar?” “Ah, mas não tem recurso, não tem espaço, não tem infraestrutura”. E ele levanta essa questão. Ele levanta essa questão e já dá a resposta para falar “olha, o problema do recurso é o problema também ligado à relevância da universidade, porque uma universidade que não atende aos interesses do povo vai continuar sendo precarizada porque se a própria estratégia de exclusão que a universidade perpetua”. Então é muito interessante como ele já coloca esses termos lá e que, apesar de anacrônico, a gente tentar trazer esse texto para uma realidade hoje ignorando que são contextos diferentes, que, por exemplo, hoje a gente tem um cenário neoliberal, que naquele momento é um momento como ele chama pré-revolucionário e antes de um golpe militar, a gente observa quanto tem, quanto se antecipam questões e se colocam questões que é um pensar muito divergente, muito diferente do próprio Vieira Pinto.

Fred van Amstel: Eu queria voltar para o design, apesar de eu acho que a gente não saiu do design em nenhum momento, a gente está falando de design educacional, de design de tuição, design de país, mas o design entendido como o design dos designers, aqueles que se arrogam dizer profissionais, eu acho que dá para fazer um paralelo direto com o papel dos professores nesse texto, porque o Vieira Pinto deixa muito claro que não são os professores aqueles que vão fazer a reforma universitária que vai beneficiar o povo. Quem tem a tarefa histórica, digamos assim, de fazer isso são os estudantes. Então são os estudantes e ele, claro, está escrevendo a pedido da UNE, da União Nacional dos Estudantes, são eles que são os atores principais. Por que os professores e os designers, agora fazendo a analogia, por que designers e professores não vão fazer a reforma da universidade ou da instituição do projeto, ou seja, desse, digamos assim, troco cultural de fazer projetos profissionalmente? Por que isso não vai se voltar nunca ao povo se deixar na mão de professores e designers? E muitas vezes quer a mesma pessoa, muitos professores também se intitulam designers antes mesmo de ser professores, porque a formação dessa classe é uma formação alienada e vinculada historicamente aos interesses da burguesia, quem vai financiar as universidades e das escolas de design e as posições profissionais, quem vai pagar o salário do design são os burgueses numa sociedade capitalista como a nossa. Então a tendência é esse profissional se identificar com o seu patrão, a não ser que hajam, claro, organizações sindicais e outras formas de levantamento dada uma consciência crítica que permita que aquela pessoa seja contra aquele que paga o seu salário, que não dá para ser feito individualmente, quer dizer, não tem jeito de você lutar contra a burguesia num battle royale, você vai sempre perder. Você tem que se unir e essa possibilidade não está evidente no próprio filme, nem em outros filmes que exploram o mesmo troco cultural que a gente está vivendo, mas que existe de fato e eu acho que o Vieira Pinto está nos dando um pouco de esperança apesar de todas essas críticas, que a gente precisa se unir e quem vai se unir para fazer a reforma do design vão ser os usuários. Então nos unamos como usuários do Discord, façamos a revolução aqui dentro, quem quiser propor inclusive alguma mudança aqui no nosso podcast, no nosso grupo de estudos, no nosso canal do Discord nós temos o canal #metadesign, que é onde você pode propor mudanças, modificar aqui o nosso espaço, é um pouco do que a gente tem feito para criar essa possibilidade de reforma do design, mas eu acho que esse texto nos impele a pensar e fazer muito mais do que isso, né gente?

Eduardo Souza: É só fazer uma última consideração aqui Fred, sobre essa ideia da subjetivação neoliberal, que incorre justamente nesse pensamento individualista mesmo, é a obliteração da ideia de um sujeito coletivo, de um sujeito formado pela classe. Um autor muito interessante para pensar isso, que coloca um conceito específico disso, é Mark Fisher, quando ele coloca a ideia do realismo capitalista, e aí ele denuncia, ele propõe esse conceito para demonstrar como hoje a gente introjetou tanto essa lógica neoliberal, essa lógica individualista do capitalismo tardio, que hoje ser considerado uma pessoa realista, necessariamente você aderir a esses valores e reproduzir eles. Qualquer coisa que fuja disso, que saia desse léxico competitivo do battle royale, da sobrevivência e do empreendedorismo e tudo mais, significa que você não é uma pessoa realista, você é uma pessoa idealista, você é uma pessoa desvinculada com a realidade. Então, é interessante como esse capitalismo tardio se apodera dessa ideia de adequação, de informação mental e psíquica, justamente para amarrar a gente cada vez mais nesse sistema para que a gente não possa sair. E isso está tão atrelado, tão introjetado, que está no nível de subjetivação individual mesmo, a ponto de a gente não conseguir imaginar mais um mundo diferente do que esse. E isso exerciando cada vez mais essas vivências coletivas que a gente tem, que a gente tinha no cotidiano e que a alguma medida a gente tem, que vão sendo cada vez mais rarefeitas e cada vez mais difíceis de ocorrer, porque a gente está sempre operando na lógica da individualidade e da mercadoria em todas as esferas da nossa vida. Então, essa talvez uma outra diferença fundamental desse contexto, como a gente vem falando, é que havia um processo de individuação, que é sobretudo nos professores, como o Álvaro Vieira Pinto coloca, que de lá para cá se aprofundou e se generalizou completamente. Então hoje a gente quase não consegue mais conceber uma ideia de um sujeito coletivo de tão imerso que a gente está nesse aquário do neoliberalismo.

Fred van Amstel: Então, para fechar o nosso episódio de hoje, com esperança eu vou puxar aqui a dialética “Faca-Revolver”. Então se a gente escutou sobre a Faca-Molada, Fé Cega, para começar, hoje a gente vai terminar com “Revólver” de Flávia Ferro. E preste atenção aí no papel do frevo como um corpo coletivo e a arte também como uma forma de construir essa resistência. Claro, porque não pensar o design a partir dessa base popular sendo também uma forma de manifestação de um corpo coletivo que quer tornar nossa sociedade cada vez mais diferencial, com possibilidade de diferença, sem essa homogeneidade que gera a acomodação das lutas de classes. Então é isso gente, muito obrigado. Semana que vem, ou melhor, daqui a duas semanas, será o nosso último encontro de discussão desse livro. Nós vamos então ler a partir da página 77, a essência da reforma da universidade, até a última página do livro que é a 102. Então estão todos convidados a participar do nosso próximo episódio. E aproveita aí para colocar um rating no nosso podcast, se você estiver ouvindo nas plataformas aí, gostou do que você ouviu, coloca um rating, coloca uma notinha e compartilha com seus colegas porque isso é sempre muito útil para fortalecer a nossa rede e os nossos corpos coletivos.